Sunday, December 05, 2010

Sustentabilidade

Quando pensamos em sustentabilidade, é comum nos vir à mente durabilidade, longevidade e respeito ambiental. Em geral, uma prática sustentável é aquela que leva a saúde do futuro em consideração. No entanto, essa ideia não se restringe somente ao mundo físico/material – ela também se aplica ao pensamento, à crença, à conduta humana e à sociedade como um todo.

Uma prática insustentável é aquela que tem um efeito desequilibrado e negativo que, com o tempo, irá afetar desfavoravelmente uma pessoa, a sociedade e/ou o meio ambiente. Um caso clássico é a nossa atual utilização do petróleo como um meio de geração de energia. Isso poderia ser considerado insustentável pelo fato de o petróleo ser essencialmente não renovável e, quando queimado, causa danos ao meio ambiente. Qualquer prática que provoque um esgotamento irreversível dos recursos naturais ou poluição ambiental de longo prazo é uma prática insustentável.

Do mesmo modo, se uma determinada empresa despeja grandes quantidades de resíduos industriais durante a produção poluindo o meio ambiente, isso também seria considerado uma prática insustentável, independentemente do que está sendo produzido.

De forma semelhante, se os materiais ou o conhecimento utilizados na produção de um determinado tipo de produto não são da mais alta qualidade conhecida, muito frequentemente a integridade desse produto é inerentemente comprometida, levando à eventual criação de mais lixo quando esse produto falha ou se torna obsoleto. Com o nosso sistema atual de busca pelo lucro, quase tudo que é produzido o é com uma fraqueza embutida, devido à necessidade de manter a quota de mercado. Em outras palavras, se duas empresas estão competindo para criar um determinado item, ambas terão de ser estratégicas quanto aos materiais e designs usados, muitas vezes comprometendo a qualidade em prol de um preço mais acessível. O resultado é um produto que quebra muito mais depressa do que um produto que recebeu o maior cuidado e a mais alta qualidade nos materiais de seus componentes.

Isso não acontece no nosso sistema por dois motivos: 1) Quando uma empresa utiliza o modelo mais avançado e os melhores materiais conhecidos, ela tende a ter um custo de produção muito mais elevado e a perder vantagem sobre a concorrência. 2) Se os produtos forem feitos para durarem por longos períodos de tempo, as pessoas não precisarão substituir, atualizar e consertar os seus artigos constantemente, e a indústria como um todo perderá uma enorme soma de dinheiro e de postos de trabalho, atrasando a economia.

Isso, obviamente, é insustentável por definição, uma vez que a ineficiência inerente do sistema econômico eventualmente cria multiplicidade, desperdício e poluição desnecessários.

E isso nos leva a ideologias insustentáveis.

Uma ideologia é insustentável quando inerentemente leva uma pessoa ou um grupo a práticas insustentáveis. Por exemplo, o que leva uma indústria a utilizar materiais de má qualidade para criar produtos insustentáveis, ao mesmo tempo em que gera uma quantidade desproporcional de lixo, é de fato o resultado de uma força maior, conhecida como “sistema monetário” ou “sistema de busca pelo lucro”. Nesse sistema, a sustentabilidade não é recompensada, pois ele é construído em cima de competição e regeneração. Em tal circunstância, o lucro sempre vem na frente da sustentabilidade, já que a sobrevivência de uma empresa é baseada no lucro, e este é parcialmente baseado em redução dos custos e na ampliação da receita. Portanto, as práticas insustentáveis existentes em todas as indústrias são o resultado de uma falha fundamental na própria estrutura econômica ideológica.

Teoricamente, a maioria concordaria que possuir recursos em abundância, além de produtos feitos dos mais resistentes materiais para a máxima eficiência e sustentabilidade, seria bom. No entanto, estas noções não são recompensadas no nosso atual sistema monetário mundial. A escassez é que é recompensada. Ela e a obsolescência planejada são recompensadas a curto prazo, visto que cria um “reviravolta” nos lucros, ao mesmo tempo em que gera mais empregos. Infelizmente, essa “recompensa a curto prazo” é à custa da “destruição a longo prazo”.

O sistema de livre iniciativa, juntamente com todos os outros subgrupos, como o comunismo, o socialismo e o fascismo, são ideologias insustentáveis, pois têm encravada em si uma propensão para o abuso ambiental e social. Para por de uma forma mais clara, um mundo que compete consigo mesmo por trabalho, recursos e sobrevivência é um sistema inerentemente insustentável, porque é desprovido de uma consciência externa.

O que então é uma ideologia sustentável?

Embora esta questão irá sempre trazer novas respostas conforme a evolução humana continua, atualmente temos um conceito chamado método científico. Basicamente, o método científico é um processo de investigação que, através dos mais modernos métodos de aprendizagem, medição, análise e experimentação, trabalha para demonstrar a validade de uma determinada interpretação ou a possível resolução de um determinado problema.

Um exemplo seria um problema num carro. Quando o seu carro não dá a partida, você dá início a um raciocínio, baseada na lógica, para encontrar a origem do problema. A lógica orienta o seu foco, começando provavelmente pela quantidade de combustível no carro, passando para o mecanismo de ignição e assim por diante. Isto é o método científico aplicado na resolução de problemas. Um método não científico cairia na categoria de “irracional”. Por exemplo, ao analisar o mesmo problema, seria irracional começar checando os pneus, pois eles provavelmente não teriam nada a ver com os mecanismos associados ao problema.

Infelizmente, a nossa abordagem de operação social é em grande medida desprovida de lógica ou metodologia, mas sim imersa na tradição, na superstição e em métodos ultrapassados de conduta. Uma abordagem científica para a sociedade, usando a lógica e a razão para avaliar e responder aos problemas sociais teria uma tendência natural à sustentabilidade, uma vez que nada pode ser isolado ou separado em tal abordagem. Em outras palavras, temos de parar de ver o mundo através dos prismas de sistemas e ideologias criados no passado, e começar a olhar para ele na forma mais ampla e imparcial que podemos. O único meio que apoia esta abordagem é a ciência, e as dádivas da ciência provaram a sua validade sem deixar nenhuma dúvida. Por isso, é tempo de utilizar os métodos da ciência na nossa abordagem à sociedade em si.

Um rápido olhar sobre os modos de operação em uso no mundo de hoje reflete uma negligência grosseira da razão, da lógica e da aplicação científica. Nossas estruturas econômicas são baseadas em meios de troca e em valores que têm pouca relação com os verdadeiros recursos e com a realidade. A religião continua a pregar visões de mundo há muito superadas pelo pensamento científico progressivo. Nosso sistema de trabalho está estruturado de maneira a exigir que as pessoas estejam “empregadas” para que possam ganhar dinheiro para sobreviver, quando a real contribuição dessas ocupações à sociedade são altamente questionáveis, mostrando que os “empregos” muitas vezes só existem para manter as pessoas fazendo “alguma coisa” para viver e sustentar a estrutura econômica. Isso é um desperdício de vida humana...

Existem muitas, muitas facetas para o compreensão de que as nossas instituições sociais vigentes são insustentáveis. Para resumir a questão, a nossa vida no planeta Terra deve ter uma premissa fundamental com a qual as nossas ações se relacionem. Esta premissa deve ser tão empírica quanto possível, e não baseada em opiniões ou de projeções. A partir de uma perspectiva científica, vemos que os recursos e a engenhosidade humana são as questões iminentes mais valiosas. A inteligência e a consciência humanas, juntamente com a gestão e utilização cuidadosas dos recursos terrestres, são de fato as duas únicas questões centrais. Tudo o mais é construído em cima disso. Portanto, precisamos dar início uma abordagem que maximize a educação, a tecnologia e o gerenciamento dos recursos.

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