A sua redação, seja ela dissertativa,
descritiva ou narrativa, deve primar, como se sabe, pela clareza,
objetividade, coerência e coesão. E a coesão, como o próprio nome diz
(coeso significa ligado), é a propriedade que os elementos textuais têm
de estar interligados. De um fazer referência ao outro. De o sentido de
um depender da relação com o outro. Preste atenção a este texto,
observando como as palavras se comunicam, como dependem uma das outras.
São Paulo: Oito pessoas morrem em queda de avião
Das Agências
Cinco passageiros de uma mesma família, de Maringá, dois tripulantes e uma mulher que viu o avião cair morreram
Oito pessoas morreram (cinco
passageiros de uma mesma família e dois tripulantes, além de uma mulher
que teve ataque cardíaco) na queda de um avião (1) bimotor Aero
Commander, da empresa J. Caetano, da cidade de Maringá (PR). O avião (1)
prefixo PTI-EE caiu sobre quatro sobrados da Rua Andaquara, no bairro
de Jardim Marajoara, Zona Sul de São Paulo, por volta das 21h40 de
sábado. O impacto (2) ainda atingiu mais três residências.
Estavam no avião (1) o empresário
Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito de
Maringá nas últimas eleições (leia reportagem nesta página); o piloto
(1) José Traspadini (4), de 64 anos; o co-piloto (1) Geraldo Antônio da
Silva Júnior, de 38; o sogro de Name Júnior (4), Márcio Artur Lerro
Ribeiro (5), de 57; seus (4) filhos Márcio Rocha Ribeiro Neto, de 28, e
Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6), João Izidoro
de Andrade (7), de 53 anos.
Izidoro Andrade (7) é conhecido na
região (8) como um dos maiores compradores de cabeças de gado do Sul (8)
do país. Márcio Ribeiro (5) era um dos sócios do Frigorífico Naviraí,
empresa proprietária do bimotor (1). Isidoro Andrade (7) havia alugado o
avião (1) Rockwell Aero Commander 691, prefixo PTI-EE, para (7) vir a
São Paulo assistir ao velório do filho (7) Sérgio Ricardo de Andrade
(8), de 32 anos, que (8) morreu ao reagir a um assalto e ser baleado na
noite de sexta-feira.
O avião (1) deixou Maringá às 7 horas
de sábado e pousou no aeroporto de Congonhas às 8h27. Na volta, o
bimotor (1) decolou para Maringá às 21h20 e, minutos depois, caiu na
altura do número 375 da Rua Andaquara, uma espécie de vila fechada,
próxima à avenida Nossa Senhora do Sabará, uma das avenidas mais
movimentadas da Zona Sul de São Paulo. Ainda não se conhece as causas do
acidente (2). O avião (1) não tinha caixa preta e a torre de controle
também não tem informações. O laudo técnico demora no mínimo 60 dias
para ser concluído.
Segundo testemunhas, o bimotor (1) já
estava em chamas antes de cair em cima de quatro casas (9). Três
pessoas (10) que estavam nas casas (9) atingidas pelo avião (1) ficaram
feridas. Elas (10) não sofreram ferimentos graves. (10) Apenas
escoriações e queimaduras. Elídia Fiorezzi, de 62 anos, Natan Fiorezzi,
de 6, e Josana Fiorezzi foram socorridos no Pronto Socorro de Santa
Cecília.
Vejamos, por exemplo, o elemento (1),
referente ao avião envolvido no acidente. Ele foi retomado nove vezes
durante o texto. Isso é necessário à clareza e à compreensão do texto. A
memória do leitor deve ser reavivada a cada instante. Se, por exemplo, o
avião fosse citado uma vez no primeiro parágrafo e fosse retomado
somente uma vez, no último, talvez a clareza da matéria fosse
comprometida.
E como retomar os elementos do texto? Podemos enumerar alguns mecanismos:
a) REPETIÇÃO: o
elemento (1) foi repetido diversas vezes durante o texto. Pode perceber
que a palavra avião foi bastante usada, principalmente por ele ter sido o
veículo envolvido no acidente, que é a notícia propriamente dita. A
repetição é um dos principais elementos de coesão do texto jornalístico
fatual, que, por sua natureza, deve dispensar a releitura por parte do
receptor (o leitor, no caso). A repetição pode ser considerada a mais
explícita ferramenta de coesão. Na dissertação cobrada pelos
vestibulares, obviamente deve ser usada com parcimônia, uma vez que um
número elevado de repetições pode levar o leitor à exaustão.
b) REPETIÇÃO PARCIAL:
na retomada de nomes de pessoas, a repetição parcial é o mais comum
mecanismo coesivo do texto jornalístico. Costuma-se, uma vez citado o
nome completo de um entrevistado - ou da vítima de um acidente, como se
observa com o elemento (7), na última linha do segundo parágrafo e na
primeira linha do terceiro -, repetir somente o(s) seu(s) sobrenome(s).
Quando os nomes em questão são de celebridades (políticos, artistas,
escritores, etc.), é de praxe, durante o texto, utilizar a nominalização
por meio da qual são conhecidas pelo público. Exemplos: Nedson (para o
prefeito de Londrina, Nedson Micheletti); Farage (para o candidato à
prefeitura de Londrina em 2000 Farage Khouri); etc. Nomes femininos
costumam ser retomados pelo primeiro nome, a não ser nos casos em que o
sobrenomes sejam, no contexto da matéria, mais relevantes e as
identifiquem com mais propriedade.
c) ELIPSE: é a
omissão de um termo que pode ser facilmente deduzido pelo contexto da
matéria. Veja-se o seguinte exemplo: Estavam no avião (1) o empresário
Silvio Name Júnior (4), de 33 anos, que foi candidato a prefeito de
Maringá nas últimas eleições; o piloto (1) José Traspadini (4), de 64
anos; o co-piloto (1) Geraldo Antônio da Silva Júnior, de 38. Perceba
que não foi necessário repetir-se a palavra avião logo após as palavras
piloto e co-piloto. Numa matéria que trata de um acidente de avião,
obviamente o piloto será de aviões; o leitor não poderia pensar que se
tratasse de um piloto de automóveis, por exemplo. No último parágrafo
ocorre outro exemplo de elipse: Três pessoas (10) que estavam nas casas
(9) atingidas pelo avião (1) ficaram feridas. Elas (10) não sofreram
ferimentos graves. (10) Apenas escoriações e queimaduras. Note que o
(10) em negrito, antes de Apenas, é uma omissão de um elemento já
citado: Três pessoas. Na verdade, foi omitido, ainda, o verbo: (As três
pessoas sofreram) Apenas escoriações e queimaduras.
d) SUBSTITUIÇÕES: uma
das mais ricas maneiras de se retomar um elemento já citado ou de se
referir a outro que ainda vai ser mencionado é a substituição, que é o
mecanismo pelo qual se usa uma palavra (ou grupo de palavras) no lugar
de outra palavra (ou grupo de palavras). Confira os principais elementos
de substituição:
- Pronomes: a
função gramatical do pronome é justamente substituir ou acompanhar um
nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda a idéia contida em
um parágrafo ou no texto todo. Na matéria-exemplo, são nítidos alguns
casos de substituição pronominal: o sogro de Name Júnior (4), Márcio
Artur Lerro Ribeiro (5), de 57; seus (4) filhos Márcio Rocha Ribeiro
Neto, de 28, e Gabriela Gimenes Ribeiro (6), de 31; e o marido dela (6),
João Izidoro de Andrade (7), de 53 anos. O pronome possessivo seus
retoma Name Júnior (os filhos de Name Júnior...); o pronome pessoal ela,
contraído com a preposição de na forma dela, retoma Gabriela Gimenes
Ribeiro (e o marido de Gabriela...). No último parágrafo, o pronome
pessoal elas retoma as três pessoas que estavam nas casas atingidas pelo
avião: Elas (10) não sofreram ferimentos graves.
Veja outros exemplos de substituição pronominal:
a) Muitos brasileiros estavam
assistindo à corrida, mas isso não bastou para que Rubinho vencesse a
prova (o pronome demonstrativo isso retoma a idéia, expressa
anteriormente, de que muitos brasileiros estavam assistindo à corrida).
b) Em época de fim de ano, as pessoas
que trabalham com carteira assinada recebem o 13° salário, o que aquece
a economia do país (o pronome demonstrativo o retoma o fato de as
pessoas trabalharem com carteira assinada);
c) (...)Sérgio Ricardo de Andrade
(8), de 32 anos, que (8) morreu ao reagir a um assalto e ser baleado na
noite de sexta-feira (o pronome relativo que retoma Sérgio Ricardo de
Andrade - Sérgio Ricardo de Andrade morreu ao reagir a um assalto...);
d) A Jonas Ricardo foram atribuídas
atitudes violentas. Segundo sua esposa, ele a agrediu na última
segunda-feira... (o pronome pessoal ele retoma Jonas Ricardo; o pronome
pessoal a retoma sua esposa); etc.
- epítetos: são palavras ou grupos de
palavras que, ao mesmo tempo que se referem a um elemento do texto,
qualificam-no. Essa qualificação pode ser conhecida ou não pelo leitor.
Caso não seja, deve ser introduzida de modo que fique fácil a sua
relação com o elemento qualificado.
Exemplos:
a) (...) foram elogiadas pelo por
Fernando Henrique Cardoso. O presidente, que voltou há dois dias de
Cuba, entregou-lhes um certificado... (o epíteto presidente retoma
Fernando Henrique Cardoso; poder-se-ia usar, como exemplo, sociólogo);
b) Edson Arantes de Nascimento gostou
do desempenho do Brasil. Para o ex-Ministro dos Esportes, a seleção...
(o epíteto ex-Ministro dos Esportes retoma Edson Arantes do Nascimento;
poder-se-iam, por exemplo, usar as formas jogador do século, número um
do mundo, etc.
Sinônimos ou quase sinônimos:
palavras com o mesmo sentido (ou muito parecido) dos elementos a serem
retomados. Exemplo: O prédio foi demolido às 15h. Muitos curiosos se
aglomeraram ao redor do edifício, para conferir o espetáculo (edifício
retoma prédio. Ambos são sinônimos).
Nomes deverbais:
são derivados de verbos e retomam a ação expressa por eles. Servem,
ainda, como um resumo dos argumentos já utilizados. Exemplos: Uma fila
de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida Higienópolis,
como sinal de protesto contra o aumentos dos impostos. A paralisação foi
a maneira encontrada... (paralisação, que deriva de paralisar, retoma a
ação de centenas de veículos de paralisar o trânsito da Avenida
Higienópolis). O impacto (2) ainda atingiu mais três residências (o nome
impacto retoma e resume o acidente de avião noticiado na
matéria-exemplo)
Elementos classificadores e categorizadores:
referem-se a um elemento (palavra ou grupo de palavras) já mencionado
ou não por meio de uma classe ou categoria a que esse elemento pertença:
Uma fila de centenas de veículos paralisou o trânsito da Avenida
Higienópolis. O protesto foi a maneira encontrada... (protesto retoma
toda a idéia anterior - da paralisação -, categorizando-a como um
protesto); Quatro cães foram encontrados ao lado do corpo. Ao se
aproximarem, os peritos enfrentaram a reação dos animais (animais retoma
cães, indicando uma das possíveis classificações que se podem atribuir a
eles).
Advérbios: palavras que exprimem circunstâncias, principalmente as de lugar:
Em São Paulo, não houve problemas. Lá, os operários não aderiram... (o
advérbio de lugar lá retoma São Paulo). Exemplos de advérbios que
comumente funcionam como elementos referenciais, isto é, como elementos
que se referem a outros do texto: aí, aqui, ali, onde, lá, etc.
Observação:
É mais freqüente a referência a elementos já citados no texto. Porém, é
muito comum a utilização de palavras e expressões que se refiram a
elementos que ainda serão utilizados. Exemplo: Izidoro Andrade (7) é
conhecido na região (8) como um dos maiores compradores de cabeças de
gado do Sul (8) do país. Márcio Ribeiro (5) era um dos sócios do
Frigorífico Naviraí, empresa proprietária do bimotor (1). A palavra
região serve como elemento classificador de Sul (A palavra Sul indica
uma região do país), que só é citada na linha seguinte.
Conexão
Além da constante referência entre
palavras do texto, observa-se na coesão a propriedade de unir termos e
orações por meio de conectivos, que são representados, na Gramática, por
inúmeras palavras e expressões. A escolha errada desses conectivos pode
ocasionar a deturpação do sentido do texto. Abaixo, uma lista dos
principais elementos conectivos, agrupados pelo sentido. Baseamo-nos no
autor Othon Moacyr Garcia (Comunicação em Prosa Moderna).
Prioridade, relevância:
em primeiro lugar, antes de mais
nada, antes de tudo, em princípio, primeiramente, acima de tudo,
precipuamente, principalmente, primordialmente, sobretudo, a priori
(itálico), a posteriori (itálico).
Tempo (freqüência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade):
então, enfim, logo, logo depois,
imediatamente, logo após, a princípio, no momento em que, pouco antes,
pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por
fim, finalmente agora atualmente, hoje, freqüentemente, constantemente
às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente,
não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio
tempo, nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que,
sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que,
apenas, já, mal, nem bem.
Semelhança, comparação, conformidade:
igualmente, da mesma forma, assim
também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por
analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com,
segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto,
como, assim como, como se, bem como.
Condição, hipótese:
se, caso, eventualmente.
Adição, continuação:
além disso, demais, ademais,
outrossim, ainda mais, ainda cima, por outro lado, também, e, nem, não
só ... mas também, não só... como também, não apenas ... como também,
não só ... bem como, com, ou (quando não for excludente).
Dúvida:
talvez provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não é certo, se é que.
Certeza, ênfase:
decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza.
Surpresa, imprevisto:
inesperadamente, inopinadamente, de súbito, subitamente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente.
Ilustração, esclarecimento:
por exemplo, só para ilustrar, só
para exemplificar, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra,
a saber, ou seja, aliás.
Propósito, intenção, finalidade:
com o fim de, a fim de, com o propósito de, com a finalidade de, com o intuito de, para que, a fim de que, para.
Lugar, proximidade, distância:
perto de, próximo a ou de, junto a ou
de, dentro, fora, mais adiante, aqui, além, acolá, lá, ali, este, esta,
isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo, ante, a.
Resumo, recapitulação, conclusão:
em suma, em síntese, em conclusão,
enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, desse
modo, logo, pois (entre vírgulas), dessarte, destarte, assim sendo
Causa e conseqüência. Explicação:
por conseqüência, por conseguinte,
como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato,
com efeito, tão (tanto, tamanho) ... que, porque, porquanto, pois, já
que, uma vez que, visto que, como (= porque), portanto, logo, que (=
porque), de tal sorte que, de tal forma que, haja vista.
Contraste, oposição, restrição, ressalva:
pelo contrário, em contraste com,
salvo, exceto, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto,
embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, posto, conquanto, se
bem que, por mais que, por menos que, só que, ao passo que.
Idéias alternativas
Ou, ou... ou, quer... quer, ora... ora.
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