Como salientado nas seções anteriores, o financiamento de novos empreendimentos depende e afeta a estrutura de ativos e passivos da empresa que o executa. O tratamento sistemático de informações financeiras da empresa resulta na classificação de crédito (credit scoring) e perfis de riscos de propostas (credit rating).
Em linhas gerais, uma operação de financiamento envolve a expectativa de recebimento (ou pagamento) de determinada quantia de dinheiro por determinado período de tempo.
O processo de captação de recursos e sua contratação têm como base a obtenção e análises de indicadores econômico-financeiros (IEF) que, ao refletir os riscos de transferência de ativos, se repercutem na estrutura de financiamento.
Nesse contexto, seis critérios são tradicionalmente utilizados. Estes são conhecidos como os 6 C’s de uma operação de crédito (RUTH, 1991; DAMODARAN, 2004), sendo apresentados e discutidos a seguir.
- Caráter: avaliação qualitativa e quantitativa em torno do profissionalismo e qualidade do management, integridade, comprovada aderência à estratégia, etc.; difícil medição, agencias de rating e análise de crédito, pesquisa junto a clientes e fornecedores, entrevistas, visitas às instalações;
- Capital: tipo, quantidade e qualidade de ativos sob controle (tem como base a avaliação de demonstrações contábeis da corporação);
- Conglomerado: é preciso avaliar as condições econômicas e financeiras das empresas coligadas (esta avaliação pode auxiliar ou colocar restrições às operações de transferência de ativos);
- Capacidade: avaliação do projeto e demais fontes e volume de de recursos que irão ser utilizados para saldar obrigações assumidas;
- Colateral: avaliação de garantias que podem ser postas à disposição caso haja precariedade nos demais C’s do crédito [as garantias devem ser avaliadas (direitos, local, valor, etc.) e não constituem o objetivo final da operação de crédito];
- Condições: avaliação quantitativa e quantitativa do mercado de atuação.
Associados aos 6 C’s do crédito, e considerando a fraca relação entre o curto e longo prazo das operações, certas fontes de risco afetam profundamente os empreendimentos.
- Risco operacional – possibilidade da empresa não ser capaz de arcar com os custos operacionais cujo nível é determinado pela estrutura e estabilidade das receitas e custos (custos variáveis) e despesas operacionais;
- Risco financeiro – possibilidade de a empresa não ser capaz de saudar suas obrigações financeiras cujo nível é determinado pela previsibilidade dos fluxos de caixa operacionais da empresa e seu nível de obrigações financeiras;
- Risco de taxa de juros – possibilidade de variação nas taxas de juros as quais possuem relação inversa com o valor dos ativos;
- Risco de liquidez – possibilidade de que o ativo não possa ser liquidado a preço razoável cuja magnitude é afetada pelo porte e número de vezes em que este ativo pode ser negociado;
- Risco de mercado – o valor de um ativo responde pela dinâmica de mercados que não possui relação direta com o mercado do ativo em si (demanda derivada). Assim, quanto mais sensível é a variação do preço do ativo, em razão da flutuação em mercados correlatos, maior seu risco;
- Risco de evento – possibilidade de que um evento totalmente inesperado exerça influência sobre o valor da empresa ou sobre o valor de um ativo específico;
- Risco de câmbio – exposição do valor do ativo a variações futuras nas taxas de câmbio podem acarretar efeitos adversos sobre o fluxo de caixa;
- Risco de poder aquisitivo – possibilidade de que variações sistemáticas nos níveis gerais de preços (inflação ou deflação) afetem desfavoravelmente o fluxo de caixa em função de variações relativas no valor das receitas e custos;
- Risco de tributação e regulatório – possibilidade que mudanças inesperadas na legislação tributária venham a ocorrer.
Com efeito, algumas dessas fontes de riscos podem ser captadas por meio de indicadores econômico-financeiros. Obtidos a partir de Demonstrações Contábeis os índices de liquidez, endividamento, rentabilidade, etc., respaldam a análise de crédito das operações. A formulação de cada classe de indicador econômico-financeiro pode ser estudada em Damodaram (2004). Já as principais fontes de risco são descritas abaixo.
Em suma, vimos que o tamanho da empresa e sua rentabilidade dependerão da escala operacional e do fluxo de investimentos rentáveis que ela for capaz de fazer ao longo do tempo. Já o valor de uma empresa depende da capacidade de caixa que ela é capaz de gerar e conseqüentemente distribuir aos seus. A estrutura ótima de capital será aquela que trouxer maior valor aos investidores.
As dívidas onerosas geram obrigações legais – indo ou não bem a empresa que deverá saldá-las. Maior volume de investimento aumenta o risco do empreendimento. Por outro lado, o modo como o capital é financiado pode afetar o valor e o risco do empreendimento.
Nesse contexto, alguns princípios se relacionam diretamente com os 6 C’s de uma operação de crédito. Os passos de avaliação de crédito para obtenção de financiamento estão diretamente relacionados à elaboração de um Estudo de Viabilidade Econômica e Financeira.
Conforme as figuras apresentadas á seguir, os processos de avaliação e de concessão de crédito estão relacionados: análise da empresa e ou grupo econômico, análise do mercado de atuação e análise do projeto.
A figura 16 apresenta as variáveis geralmente associadas à análise da empresa e ou grupo econômico. Esta fundamentação dará uma idéia dos aspectos organizacionais, produtivos e financeiros essenciais à concessão do financiamento. A rigor essas informações permitem avaliar possíveis riscos e inconsistências do empreendimento.
A avaliação qualitativa é complementada por meio de avaliações quantitativas por meio de indicadores econômico-financeiros obtidos a partir de informações cedidas pela empresa. A apresentação organizada dessas informações é, em muitos casos, obrigatória.
Figura 16: Aspectos críticos na análise da empresa ou grupo econômico para a concessão de crédito. |
Figura 17: Aspectos críticos na análise do mercado para a concessão de crédito. |
Nesse tipo de análise deve-se fundamentar quais os principais fatores afetam os níveis de receitas e custos.
Os bancos elaboram e divulgam periodicamente estudos setoriais. O cruzamento das informações apresentadas com os dados apresentados na proposta permite a avaliação dos riscos de mercado.
Portanto, o grau de exposição ao risco é avaliado por meio da análise de dados de natureza microeconômica. Esses dados devem ser fundamentados por meio de informações contábeis, estudos e dados secundários obetidos a partir de fontes externas idôneas (IBGE, FIPE, FGV, associações classistas, etc.).
Figura 18: Aspectos críticos na análise do projeto para a concessão de crédito. |
A análise do projeto é feita por meio de critérios qualitativos e quantitativos. A capacitação gerencial em projetos constitui um aspecto importante. O projeto deve ser justificado de maneira consistente.
É importante apresentar no plano do projeto, um relatório de viabilidade econômica e financeira bem fundamentado e consistente bem como os critérios de determinação de gastos. Os resultados esperados devem ser consistentes para permitir sua avaliação.
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