Sunday, November 18, 2012

Conflitos no Oriente Médio

O Oriente Médio consiste hoje no pólo de maior tensão mundial. Essa condição surge desde a Antigüidade, quando vários povos tentaram, e muitos conseguiram, invadir e dominar essa região, pois assim teriam o controle das rotas comerciais entre Ocidente e Oriente. Essas várias e constantes invasões acabaram por gerar uma multiplicidade de raças e culturas na região. Outro fato que colaborou para colocar o Oriente Médio como centro de atenções foi o fato de que lá são encontradas as maiores reservas de petróleo do planeta. Como esse produto é hoje a base do desenvolvimento capitalista (principal produto), quem tiver o domínio dessa região poderá ser chamado de Mister Petróleo.


Candidatos para essa posição não faltaram. Também devemos adicionar a esse processo o fato de a região ser predominantemente árida e, portanto, os pontos com uma maior umidade são disputados com muita vontade pelos pretendentes.


O subdesenvolvimento e todas as suas conseqüências também fazem parte desse local. Com toda essa gama de fatores, o resultado não poderia ser outro, gerando um "barril de pólvora" prestes a explodir a qualquer momento. A nível didático, vamos dividir todos esses conflitos em três grupos:

1. A Questão Árabe-Israelense

Perseguidos por formar uma Nação sem Estado, o povo judeu promove o retorno à Pátria, procurando retornar ao local de sua origem: a Palestina. Esse processo foi lento e gradual, mas sempre encontrou a reação dos árabes que passaram a ocupar essa região com a diáspora dos judeus. Para evitar conflitos mais violentos, tropas inglesas faziam a vigilância da Palestina. Com a Segunda Grande Guerra, o movimento sionista é acelerado pela perseguição nazista e, por outro lado, a Inglaterra não tem condições de continuar a fazer a vigilância da região.


Com o final da guerra, a ONU resolve fazer a partilha da Palestina, tentando separar árabes e judeus e assim evitar maiores conflitos. Os árabes ficaram com uma área de 11 500 km2, divididos em duas faixas: Gaza e Cisjordânia. Os judeus ficaram com 14 000 km2. Israel passou a ter o status de internacional.

A - Guerra da Independência (48\49)

A Liga Árabe recusa-se a aceitar essa partilha feita pela ONU. Inicia um processo de agressão aos judeus, que negociam na ONU a formação de um Estado como única saída para pôr fim a essas agressões. Israel (primeiro e único Estado judeu) é reconhecido e, no dia seguinte, forças combinadas do Egito, Jordânia, Iraque, Síria, Líbano invadem o recém-criado país. Como já sabia dessa possibilidade de reação por parte dos árabes, Israel se preparou para a defesa e não só expulsou os invasores como também invadiu-os, tomando para si a região das colinas de Golã (Síria) e a península do Sinai (Egito).

B - Guerra de Suez (56)

No Egito, Gamal Abdel Nasser chega ao poder com sua política do Pan-Arabismo (união árabe contra os inimigos comuns). Era inaugurado o período de cooperação entre Cairo e Moscou, o que coloca em questão a dominação dos países dessa região pelas antigas Nações européias. Nasser nacionaliza a Cia. Universal do Canal de Suez e passa a controlar todo o tráfego do canal, proibindo os navios considerados inimigos de passarem por lá.


Israel lança um ataque à cidade de Port Said, na entrada do canal, com suas tropas sendo comandadas pelo general Moshe Dayan. Ao mesmo tempo, forças inglesas e francesas bombardeiam Alexandria e Cairo, as duas maiores cidades do Egito. Moscou reage ao ataque com um discurso contrário à agressão e a ONU ordena o fim dos ataques e manda para a região suas tropas de paz. Apesar da derrota militar, Nasser sai fortalecido, pois passa a ser visto pelos árabes como a única real ameaça aos judeus.

C - Guerra dos 6 dias (67)


Acreditando na possibilidade de derrotar os judeus, Nasser rearma seu exército com equipamentos soviéticos e se prepara para atacar Israel. Antes disso, Nasser faz um acordo com a Síria (RAU - Repúblicas Árabes Unidas) e pressiona a ONU para retirar suas tropas de paz do canal de Suez. O Egito retoma o controle do canal, invadindo mais uma vez a região. No dia 5 de julho, Israel faz um ataque relâmpago e abate as tropas egípcias, que nem tiveram tempo para reagir. Diante da luta, a Síria ataca o norte de Israel e a Jordânia abre fogo contra Jerusalém. Em apenas seis dias o exército judeu controla a situação, mostrando sua superioridade. Os árabes, agora militarmente humilhados, teriam que encontrar outras táticas para reconquistarem suas terras.

D - Guerra do Yom Kippur (73)

Com a morte de Nasser, em 1970, sobe ao poder egípcio Anuar Sadat, que tinha uma outra visão para solucionar o impasse com os israelenses. Buscando uma solução regional, Sadat afasta-se da URSS e aproxima-se de Washington. Mesmo assim o Sinai não é devolvido e Sadat mais uma vez ataca Israel. No dia 6 de outubro, feriado sagrado para os judeus, as tropas egípcias e sírias atacam novamente, e mais uma vez são derrotados pelo exército de Israel, que decide invadir de vez estes dois inimigos, acabando definitivamente com seus soldados.


Diante do quadro, os presidentes americano (Nixon) e soviético (Brejnev) se reúnem para propor em conjunto um acordo para o Oriente Médio. Os Acordos de Camp David são assinados em 79 por Sadat (Egito) e Begin (Israel). O Egito recebe de volta suas terras no Sinai, mas passa a ser visto pelo mundo árabe como um traidor da causa, uma vez que se reuniu com os judeus e não irá mais atacá-los. Isso levará Sadat ao assassinato por parte de seu próprio exército durante uma parada militar. Por outro lado, as faixas palestinas árabes permaneciam sob domínio militar de Israel.

2. A Luta pela Hegemonia Política

O mundo árabe sempre foi muito disputado por pessoas que pretendiam usar a unidade árabe (levante) para se destacar no cenário mundial. O título de Mister Petróleo, que os tornaria o homem mais importante do mundo, sempre levantou a cobiça de alguns. Por outro lado, apoiado na expansão do Islamismo e na unidade lingüística, o Pan-Arabismo surgiu desde a Idade Média.


Com a morte de Nasser e sua substituição por Sadat, que tinha uma política menos agressiva e mais próxima do Ocidente, o que desagradava o mundo árabe, o Iraque e a Síria passam a disputar essa liderança. Já o Irã, que não é um país árabe (é persa), propõe uma unidade muçulmana baseada nos fundamentos do Islã. É nesse cenário que se irá disputar a luta pela hegemonia política no Oriente Médio.

A - A "Grande Síria" e o Líbano

Em 1971, Hafez Assad assume o poder na Síria e leva consigo a idéia da "Grande Síria", que implicava na expansão territorial sobre o Líbano (considerado um Estado artificial criado pela colonização francesa). O Líbano é um país dividido entre dois grupos: os cristãos e os muçulmanos. A capital Beirute é dividida em duas partes. Foi feito um acordo, em 1943, que equalizava as forças da época: a Câmara seria formada por 53 cristãos e 46 muçulmanos, a liderança era de um muçulmano xiita e o primeiro-ministro um muçulmano sunita. O presidente seria um cristão maronita. Como a população muçulmana cresceu mais que a cristã, o governo recusava-se a fazer um novo censo com medo de perder a maioria. Isso acaba numa guerra civil entre os dois grupos (1976). Aproveitando-se disso, a Síria invade o Líbano com a desculpa de ajudar os árabes. Israel também aproveita para invadir o Líbano e procura guerrilheiros terroristas que faziam suas bases em território libanês. O resultado foi um país dividido até hoje.

B - Guerra Irã-Iraque

Ocorre entre 1980 e 88, violenta e prolongada, foi o resultado da chegada ao poder, em 79, de Saddam Hussein com o objetivo de liderar o mundo árabe. No mesmo ano, uma Revolução Fundamentalista instaura uma ditadura do clero islâmico com o Aiatolá Khomeini. A inquietação dos vizinhos, somada aos interesses externos de países como União Soviética, China e EUA, iniciou uma guerra que iria durar 8 anos, sem, no entanto, podermos detectar um vencedor (a desculpa para justificar a guerra foi a questão da navegação no Chat-el-arab). A morte do Aiatolá Khomeini em 89 e a mudança dos alvos na expansão de Saddam puseram fim a essa guerra.

C - Guerra do Golfo (1990)

Enquanto Irã e Iraque se indispunham numa guerra sem vencedores, os EUA aproximaram-se do Kwait e da Arábia Saudita, exercendo na prática o poder que estava em disputa. Saddam Hussein passa então a direcionar seu poder de fogo para estes dois aliados americanos no Oriente Médio. Em agosto de 1990 o Iraque invade e anexa o Kwait ao seu território. Preparava-se para atacar a Arábia Saudita quando os EUA questionaram essa invasão promovida por Saddam e a ONU foi radicalmente contra, pedindo a imediata retirada das tropas iraquianas do Kwait.


Como não atendeu à ONU, os EUA lideram uma força para repreender Saddam. Nesta guerra foi testado que de mais moderno existe em equipamento militar, não havendo a menor chance para Saddam. Neste conflito morreram cerca de 100 mil pessoas, a grande maioria civis iraquianos de Bagdá. Saddam foi obrigado a aceitar o cessar-fogo incondicional para não ser massacrado. Com isso o Kwait foi libertado e traçou-se uma linha de defesa ao redor deste país onde Saddam não pode mais circular com suas tropas em hipótese nenhuma.

3. A Questão Palestina


Para evitar o confronto entre árabes e judeus na Palestina, a Liga das Nações deu à Inglaterra o encargo de patrulhar com suas tropas esse território, tarefa que foi cumprida até o término da II Guerra, quando, arrasada pelos ataques de Hitler, a Inglaterra não possuía condições de continuar essa tarefa. Essa impossibilidade inglesa coincidiu com o retorno maciço dos judeus para a Palestina, causado principalmente pelo "holocausto". Diante desse quadro, a ONU promove a partilha da Palestina. A criação do Estado judeu de Israel gerou vários conflitos, como já vimos, mas sempre derrotados pelo superior poder de fogo israelense, os árabes palestinos partem para a criação de um Estado próprio. Essa proposta é negada pela ONU, que teme novas guerras caso ela aconteça. Diante dessa negativa, é criada na Conferência de Cúpula Árabe de Alexandria, em 1964, a OLP (Organização para Libertação da Palestina), que une grupos de várias tendências ideológicas, mas que têm em comum a intenção de criar a Palestina. Num primeiro momento, os grupos mais radicais contam com grande simpatia da população e passam a fazer uso do terrorismo para intimidar Israel e seus aliados.


Como a resposta israelense era sempre muito dura, esses grupos (como a Al Fatah) foram perdendo apoio e foram substituídos por correntes moderadas dentro da OLP. Começa a conversação entre árabes e judeus no sentido de se buscar a paz para a região. Muito difícil, houve a grande participação dos EUA nesse processo de negociação que começava a dar seus primeiros frutos quando Saddam Hussein, durante a Guerra do Golfo (1990), ataca Israel com seus mísseis Scud, tentando colocar esse país na guerrra para usar do antisemitismo árabe e tenta unir a Liga Árabe ao seu redor, reaquece as lideranças extremistas da OLP, que voltam a praticar o terrorismo como forma de pressionar Israel. Mas o medo de Saddam atingir seus objetivos acabou por isolá-lo. O resultado é a busca de uma paz negociada para a região, o que começa a acontecer em 1992, com uma Conferência de Paz em Madrid. Os grandes rivais dessa paz negociada são os grupos extremistas que, dos dois lados, colocam essa negociação como uma traição às suas causas e assim buscam uma radicalização que traz a guerra e afasta a paz. No final de 93, Rabin vence as eleições em Israel e promove uma nova negociação pela paz com Arafat. Um acordo assinado em 13/10/93 (Gaza-Jericó) reconhece o inimigo como legítimo e retira a ocupação israelense em Gaza. A radicalização por parte dos árabes e o assassinato de Rabin, por extremistas judeus, reacende o fogo da rivalidade e a Palestina retorna hoje a mais um momento de instabilidade.

1 comment:

um ser pensante said...

Muito bom o artigo sr!!!!... só não está boa a situação por aquelas bandas... :/