Wednesday, April 06, 2011

Diálogos de Estado

Vejam este diálogo histórico e reflitam o quanto atual ele é. O interessante é que a dinâmica da história consegue ser, nas decisões de gabinete, simples e  ao mesmo tempo irônica e mordaz sem perder a dramaticidade e a sincronia com o tempo futuro. Ou seja, tudo se revoluciona e muda para permanecer exatamente com as mesmas cores de fundo, com o mesmo drama.

Diálogo entre Colbert e Mazarin durante o reinado de Luís XIV:

Jean Baptiste Colbert – ministro de estado de Luis XIV
(Reims, 29 de Agosto de 1619 – Paris, 06 de Setembro de 1683)

Jules Mazarin – nascido na Itália foi cardeal e primeiro ministro da França
(Pescina, 14 de julho de 1602 — 9 de março de 1661)

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarin: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se...

Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarin: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarin: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
Mazarin: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então como havemos de fazer?
Mazarin: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais,sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!

Extraído de “Diálogos de estado”

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